segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os pulsos sem horas

A cidade do Natal parece estar finalmente entrando no top das metrópoles brasileiras de terceira linha. São novos comércios todos os dias, a construção civil novamente sofre o “bum” que os economistas previram alguns anos antes, e o ar mais limpo do país, finalmente não é tão puro assim. Sim, Natal cresce como todas as futuras cidades turísticas e politizadas do Brasil também cresceram. No entanto, as pessoas que moram na cidade não dão mais as horas.

Isso não se deve pela falta de educação que o povo tem, aliás, os natalenses são conhecidos pela receptividade, com os seus turistas. As pessoas não dão mais as horas pelo simples fato de não ter relógios em seus pulsos, em sinal da violenta onda de assaltos ocorridos nos últimos meses, quiçá nos últimos anos. Exato, Natal não é mais uma cidade segura, como contada nas crônicas de Cascudo. Os vizinhos não mais conversam nas calçadas, os casais não mais namoram nas praias; os jovens agora tem medo das festas, quando as brigas são apenas resolvidas com armas de fogo.
Não dar as horas significa o pânico que a sociedade está passando. Todos os dias notícias de jovens assassinados por motivos torpes, mulheres são espancadas, idosos são desrespeitados. Certo, a violência está em todo o lugar ocupado por homens, em toda cidade que se desenvolve, mas nem por isso é aceitável as estatísticas banais consequente desse chamado desenvolvimento. Se existe emprego para os cidadãos, nada mais natural e justo do que também haver segurança para os filhos deles. Se as políticas públicas beneficiam os mais necessitados, homens e mulheres pobres e negros, também nada mais justo que implantar um sistema de saúde que funcione.
Não é um milagre, não é uma utopia. É apenas planejamento. Aliás, se existe violência, e não só aquela em que pessoas morrem por nada, mas por falta de respeito ao próximo. É clássico, ou clichê: se fazes o bem, vais colher o mesmo bem com duas vezes mais de ingredientes. Pode parecer hipocrisia, ou utopia novamente, dependendo do leitor, mas saber que suas ações poderão levar outro indivíduo a agir da mesma forma vale a pena refletir. Com um único gesto de respeito, todo o clima muda, e provavelmente o sujeito que “entregou a carteira que o outro deixou cair”, se sentirá bem melhor. O pipoqueiro viu tudo isso, e repassou esse exemplo para os seus filhos.
Mas e a violência social, o que se pode fazer dela? Existe solução? Os brasileiros moram em um país democrático, que possui uma maravilhosa Constituição e que autoriza a eleição direta. Os caras que indicam suas secretarias que porventura estruturam a grade administrativa de nosso ensino, são os responsáveis por mantê-la funcionando. Se as crianças estão nas escolas, serão professores, médicos e ambientalistas capacitados no futuro. Depois disso tudo, ainda haverá violência social? Sim, haverá. A sociedade é formada por indivíduos que possuem emoções complexas, cada um diferente do outro, influenciados por âmbitos também diferentes. Por isso é tão difícil evitar acidentes sociais, sobretudo contra grupos destacados como sujeitos as maiores problemáticas: negros, pobres e mulheres.
Embora possa existir sempre esse vírus social que atinge todas as classes e todos os agentes da sociedade, nada mais natural que seguir adiante com a vida. Seguir adiante não significa deixar tudo como está, esquecendo o dever de fazer sua parte, mesmo que em pequenos detalhes do cotidiano. Nas eleições, nos congressos, nas assembleias, nas práticas sociais beneficentes, ajudar é somente prestar um serviço a comunidade. Não é salvar a pátria. É fazer uma pequena diferença onde se mora. Quem sabe, com isso, mudando um pouco a situação aparente atual, as horas voltarão a ser dadas, e o medo não conviverá mais com todos.


*texto publicado originalmente no Blog do Ivenio Hermes

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